Analisando os SPED’s do DRC BR – Arquitetura, prós e contras – Parte 2
Analisando os SPED’s do DRC BR – Arquitetura, prós e contras – Parte 2
Primeira coisa é ter lido a parte 1. Se você não leu, volte 1 casa e leia essa página Parte 1 da análise.
Se você já leu, avance 1 linha.
Desenvolvimentos no DRC BR
Um dos primeiros tópicos da parte 2 fala sobre os desafios de atender aos cenários não cobertos no standard (blocos não cobertos, obrigações acessórias, apurações de impostos e complementos) e dividi esse capítulo em 2 partes: Com XSA/WebIDE e sem XSA/WebIDE. Nesse capítulo não vou entrar em detalhes sobre o uso de uma solução fiscal no BTP, pois se você utilizá-la não é necessário fazer esse tipo de desenvolvimento On-Premise.
A moral da história é que a recomendação geral é que as empresas procurem um parceiro fiscal com solução complementar que use os complementos no BTP (e não faça desenvolvimentos on-premise de calculation views novas para apuração ou relatórios acessórios), mas no texto aqui vou falar sobre o que acontece se você optar por fazer desenvolvimentos on-premise e não usar esse tipo de solução fiscal.
Quem hoje trabalha com solução fiscal complementar do TDF instalada dentro do Netweaver do TDF vai estranhar um pouco, pois essa não é mais a arquitetura recomendada para o DRC e isso está, de certa forma, alinhado com a estratégia de clean core no S/4HANA.
Desenvolvendo com XSA/WebIDE
O último tópico da parte 1 era relacionado com a instalação do XSA/webIDE, pré-requisito para poder realizar desenvolvimentos dentro de novas calculation views dentro do DRC BR no caso de on-premise/private cloud.
O desenvolvimento de calculation views no S/4HANA DRC necessita de um container HDI customizado e nele é necessário fazer referência aos objetos do container HDI da SAP. Há um blog da SAP ensinando como fazer extensões ou novas calculation views: Blog da SAP como ampliar ou customizar views.
Aqui tem um exemplo de container HDI customizado:
Então não parece ser um mistério, exceto que não é a recomendação e nem é está disponível ao cliente dependendo do contrato que ele tem.
Além da instalação/uso do XSA ser um tema complexo, esse também é um assunto delicado e complicado para empresas que estão fazendo projetos no modelo de licenciamento “Rise with SAP.” Já fiz projetos onde o cliente não tinha no contrato a instalação e licenciamento da ferramenta cobertos, por isso não podia fazer o uso dessa solução nem tinha ela no ambiente.
Buscando na internet encontrei as informações abaixo, da própria SAP, sobre o uso do XSA em um tipo de contrato usado no modelo RISE:
“SAP HANA XSA is a separate technical component and not part of a standard installation of an SAP HANA database; SAP HANA XSA needs to be explicitly included/scoped in the initial contract or subsequent Change Request (CR).”
O link dessa informação é público e vocês encontram aqui:
Informação sobre RISE with SAP
Não sou vendedor e não sei explicar contratos (nem todas as variações que podem existir) da SAP em detalhes, se você tiver dúvidas com relação a licença procure seu executivo comercial da SAP ou do parceiro que o atende. Como já ouvi de um colega numa palestra de Inside Track um vez, um dos motivos que continuo trabalhando com SAP é porque eu não vendo licenças e não me envolvo com a venda delas. Só estou alertando para um ponto importante e que deve ser verificado antes de fazer qualquer desenvolvimento.
Desenvolvendo sem XSA/WebIDE
Então, se não tenho XSA/WebIDE sou OBRIGADO a procurar uma solução complementar no BTP?
Não necessariamente, existe uma outra opção mesmo para quem não tem o XSA/WebIDE instalado e licenciado. Você pode fazer desenvolvimento de extensões/customizações no ABAP (muito conhecidas como programas Z*) sem criar novas calculation views, apenas consumindo as views já existentes no CTR.
Então para quem não pode desenvolver no XSA por questões contratuais e não quer usar a solução no BTP sobra a opção de desenvolver via ABAP clássico.
É possível re-utilizar as calculation views do CTR usando AMDP/ADBC, por exemplo, e só consumir as calculation views já criadas pela SAP. No caso de necessitar lógicas adicionais pode se fazer CDS view ou tabelas Z lidas por classes/métodos como qualquer outro desenvolvimento de S/4HANA (on-prem ou private cloud). Não tente usar as external views para fazer selects, isso realmente não funciona mais no DRC.
O código para usar o ADBC passa pela classe CL_SQL_STATEMENT conforme no exemplo abaixo onde passamos a query SQL pronta para ser consumida pelo método execute_query.
Esse post abaixo, na SAP Community, aqui explica como consumir Hana Calculation view usando ABAP:
Blog mostrando como consumir Hana Views no ABAP
Ahhh, mas isso aqui não está alinhado com o conceito de clean core e não é a recomendação da SAP atualmente!
Sim, em boa parte é verdade essa afirmação. Mas é possível fazer e por isso estou destacando aqui, cada empresa decide o que é melhor para si de acordo com a sua própria estratégia, se eu não disser isso daqui estaria omitindo uma informação importante e que provavelmente vai ser adotada por várias empresas.
Discorda dessa opinião? Você pode comentar abaixo e entrar na discussão com argumentos de prós e contras, a discordância é sempre válida.
Simulações de dados das views
Um outro ponto importantíssimo para quem já conhece TDF é a capacidade de simulação de dados, quem já implementou o TDF sabe que vai lá no hana studio, escolhe a view, clica em data preview, preenche os parametros de consulta e vê o resultado. É possível fazer isso em cada nodo da view gráfica para analisar onde um valor é determinado ou onde um certo registro é eliminado, por exemplo.
No DRC BR existem duas maneiras principais de fazer isso:
Simulação para quem não tem XSA/WebIDE
No DRC não tem mais isso disponível no HANA studio e sem o XSA instalado no ambiente não tem como ver os detalhes gráficos das calculation views do HANA.
Isso significa que o funcional precisa invocar a visão onipresente do “Olho de Thundera” para conseguir simular os detalhes do que está sendo selecionado e onde e com que filtro de que view ou tabela, ou seja, não é mais simplesmente acessar um data display para simular algo se você não tem o XSA/WebIDE. Se você tem isso, on-premise ou no BTP daí é um data preview mais ou menos como se fazia no Hana Studio, a ferramenta mudou mas a funcionalidade é muito parecida.
Essa é a transação do HDI deploy onde é possível acessar o XML das views:
Sem o XSA não tem a parte gráfica, mas as views tem a sua definição em XML, é possível ler o XML da View e existe também a possibilidade de usar a transação DB02 para fazer simulações de dados. A desvantagem é que isso dá 500X mais trabalho do que fazer um data preview. Mais fácil aprender japonês em braille do que descobrir de onde vem os dados olhando DB02 e XML de view.
Esse aqui é um exemplo de um pedaço conteúdo XML da view. Dá para tentar buscar filtros e fórmulas aí, mas fica muito complicado de entender os relacionamentos dos joins e unions. Se você já tem idéia das views no TDF pode conseguir navegar melhor, mas aprender do zero com o XML da view é quase impossível.
Para fazer um data preview via DB02 você precisa criar uma “view de debug” selecionando qual o nodo que você quer testar. Se você quiser testar vários nodos terá que criar um por um, manualmente assim como faziam os maias e os aztecas, antes de usá-los.
Um exemplo dessa utilização da DB-02 está no blog post da SAP:
Como ver o resultado uma calculation view do hana
Aqui embaixo tem um select feito usando a DB02 e a view de debug da NF_DOCUMENTO_ITEM_IMPOSTO usando o FinalNode:
Daqui em diante é SQL, você pode montar os SQL’s e ir adicionando parâmetros e o negócio funciona, apesar de ser mais complicado para o consultor funcional. Além disso, precisa de acesso na DB02 do S/4HANA o que vai te dar uma certa conversa com BASIS até que esse acesso seja liberado para um consultor funcional.
Simulação para quem tem XSA/WEbIDE
Para quem conseguir ter o XSA e o webIDE instalado (e tiver isso permitido no contrato) precisa também conseguir exportar as views pro container do HDI, setar o cross hdi accesss, definir todos os privilégios de autorização necessários e o escambau.
Nesse caso (e somente nesse caso) dá pra usar a gloriosa interface do webIDE para fazer display e e data preview e isso é bem similar ao data preview do Hana Studio, mas repito, isso é privilégio de poucos.
A instalação desses componentes até o momento tem se provado ser um pouco mais complicada do que enviar foguetes para a lua e trazê-los de volta inteiros.
Outros Desafios técnicos
Os desafios não terminaram por aqui não. Listei abaixo mais alguns pontos relevantes e que são preocupações principalmente para empresas globais com instalação central de SAP usada em vários países.
Notas de correção dentro do S/4HANA
Caso tenha que implementar correções ou alterações legais, tem que implementar notas dentro do S/4HANA (pacotes S4CORE e UIS4HOP1) para atender o DRC BR.
Existem dois tipos de notas necessárias, as notas do Framework (fazem parte dos apps “Run Statutory Reports” e “Define Statutory Reports” e as notas específicas da solução do Brasil).
Implementar algumas dessas notas vai ter impacto em FI, SD, MM? Não… mas implementar essas notas vai precisar estar alinhado com janelas globais de atualização, quando pensamos em ambientes de multinacionais onde é bem comum termos períodos de freeze globais e janelas restritas para atualizar sistemas de produção. CI/CD não é uma realidade comum no mundo do ERP SAP.
Atualizações frequentes
Falando de necessidades de atualizações frequentes, o DRC Brazil nesse momento tem cerca de 150 notas lançadas desde 2019 (algo como 2 ou 3 por mês) mas várias delas contém mudanças legais que são obrigatórias, ou seja, a empresa vai ter que implementar para poder entregar o arquivo legal para as autoridades e precisa implementar elas em sequência. Não dá para implementar fora da ordem, ou seja, preciso da nota 148 é necessário garantir que todas até a 147 estão implementadas. Claro que dependendo do seu release e FPS do S/4HANA várias delas já estarão implementadas.
Necessidade de regression tests
Outra coisa que tem pros e cons é que existem notas com várias correções juntas e isso gera a necessidade de fazer regression tests de vários reports mesmo que apenas uma nota seja implementada.
Vou dar um exemplo com a nota 3296022 – [DRC Brazil] Note 127: Corrections to SPED Reports.
Essa nota tem alterações no CTR, no EFD ICMS/IPI, no EFD Contribuições e também no ECD/ECF. Ou seja, em teoria ao implementar uma nota dessas a empresa precisa fazer regression tests de quase todos os relatórios do SPED bem como dos reports adicionais (devido as alterações no CTR).
Agora imagina que você está num ambiente global, o BR é apenas um dos países que você atua e devido a uma nota você precisa re-testar 10 diferentes processos de negócio ? Bom não é né…
Algumas outras coisas continuam iguais, como notas com muitos passsos manuais complicados. Isso vai continuar assim por muito tempo, acho que a IA vai dominar o mundo antes ser capaz de implementar uma nota no SAP.
Sizing e Performance
Outro ponto importante é que a estrutura toda do DRC está dentro do S/4HANA e isso precisa ser considerado no sizing do sistema, tanto quando falamos de memória para processamento e armazenamento como quando falamos de recursos para execução de reports. Basta pensar que uma empresa de grande porte com alguns milhões de contabilizações por ano pode vir a ter muitos GB’s de shadows sendo preenchidas ano a ano.
Performance é um ponto a parte, me parece que a performance dos relatórios é semelhante ao do TDF ( o que pode ser bem complicado se tratando de Contribuições e REINF R-4000 ) em ambientes com grande volume de dados, mas nessa área não fiz estudos muito aprofundados.
Continua na Parte 3…
Valeu Gurizada,
Renan Correa
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Mais infos sobre a localização Brasil no ERP, direto da sap, vocês podem conferir no SAP community na tag de S/4HANA logistics for Brazil
Outros posts sobre Localização você pode conferir filtrando pela categoria NFE/CTE ou Localização BR Geral.
Outros posts sobre TDF você pode conferir filtrando pela categoria TDF/DRR.
Buenas, baita material Renan, diga-se de passagem,,,todos os posts são topzerass